quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Um ano para esquecer

Para cumprir a Constituição, o Senado realizou a última sessão do ano na véspera de Natal. Com o plenário praticamente vazio, os senadores discursaram mesmo para a TV Senado.

Ninguém poderia esperar que os senadores fossem trabalhar no dia 24 de dezembro, mas a imagem de meia dúzia de parlamentares em um plenário de 81 cadeiras acabou virando uma síntese do que foi um dos piores anos da história da Casa.

Abalado com o escândalo que resultou na renúncia de Renan Calheiros ao cargo de presidente, o Senado termina o ano como uma das instituições mais desacreditadas do país e tem sua utilidade questionada praticamente todos os dias.

Para recuperar essa imagem, o presidente do Senado, Garibaldi Alves, quer a instituição "mais próxima da sociedade em 2008".

Os trabalhos só recomeçam depois do Carnaval.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Histórias da República dos Bananas

O Aumento de Salários do congresso (e pelo congresso)
por Leonardo Monteiro

Numa democracia representativa elege-se algumas pessoas que teoricamente representam os interesses da população em sua composição diversa, e dos Estados, que compõem a Federação. No Brasil essa função é remunerada. Agora sr. leitor, adivinhe quem são as pessoas que decidem o valor a ser repassado aos nossos "representantes"? É isso mesmo que o esperto leitor imaginou...

Prólogo:

No final de 2006, os deputados e senadores já sabiam quais deles haviam sido eleitos e continuariam com seus mandatos nos anos seguintes e quem seriam seus novos colegas. Resolveram então deixar um belo "presente" a eles mesmos: um aumento de quase 100% de salário, pagos com o dinheiro público.


Os Detalhes:

Acompanhe em detalhes a inteligente estratégia que eles utilizaram:

Em meados de 2006, os deputados aprovaram um aumento salarial para os juízes onde o teto ultrapassou os R$ 24 mil. O que eles esperavam? Que logo em seguida pudessem equiparar os SEUS salários aos dos juízes, já que voga a paridade de valores entre os poderes, e assim, eles poderiam contar com um aumento de mais de 91% dos seus salários.

Eles tentaram fazer isso em dezembro sem submeter esse projeto a votação, através de acordo entre os líderes de cada bancada. Isso porque sabiam que era uma medida impopular (atitude bem covarde, não?). O plano quase deu certo, se não fosse a opinião pública fazendo pressão pra que esse absurdo não acontecesse.

Pressionado, o judiciário obrigou-se a anular esse aumento, dizendo que se os deputados quisessem o aumento que o fizessem através de votação em plenário. No popular: dando a cara a tapa, já que o eleitor estaria acompanhando tudo.

Não satisfeitos, eles tentaram colocar o aumento em votação por duas vezes ao longo do ano de 2007, desta vez com uma proposta menos gritante, por volta de 30% . Mas cada vez que era anunciada a votação, eles recuavam e a adiavam, pois a notícia era veículada na imprensa e espalhada rapidamente pela internet. Assim recebiam um número crescente de mensagens de indignação dos seus eleitores. Preferiram então, colocar o rabo entre as pernas e aguardar um pouco mais.

A solução encontrada? Escolherem um dia que fosse bem conveniente a eles: a visita do Papa ao Brasil. Como a imprensa estaria cobrindo o evento, o que estivesse sendo feito no congresso não teria grande divulgação. O desgaste (leia-se indignação do eleitor) causado pela votação seria menor. Assim fizeram nossos deputados.

E ainda foram covardes: preferiram fazer uma votação simbólica, onde não são nominados os deputados. E mandaram o rojão do aumento de salários para o senado. E o senado, seguindo a lógica da nossa Lei Maior no Brasil, a Lei de Gérson, bateu o martelo fazendo a alegria de todos eles. Somente 2 senadores dos 81 existentes votaram contra o aumento. E mesmo esses obviamente não devolvem o valor excedente a União após a votação ter passado.

O discurso: "não vi nada. não é comigo"

Dentre as desculpas esfarrapadas que se mais se ouviram no auge do episódio surgiram verdadeiras pérolas dos nossos congressistas. Desde as mais estapafúrdias, como possíveis projetos para que deputados pudessem devolver parte do seu salário se assim quisessem, ou que doam parte do salário ao partido, ou que era "somente" um reajuste. Até as mais elaboradas, como que seu voto somente seguiu a posição de sua bancada e que nada poderiam fazer, sugerindo que sua posição pessoal poderia ser contra o aumento, o que é uma mentira e afronta a inteligência do eleitor com QI acima de 80 pontos.

Dando nomes aos bois, essas "explicações" surgiram respectivamente das deputadas Manuela D'ávila (PCdoB - RS) e Maria do Rosário (PT - RS). Mas obviamente elas não foram as únicas. A maioria dos congressistas utilizaram de expedientes parecidos para justificar a extorsão ao trouxa eleitor.

Senão vejamos essa "explicação" sobre o voto de bancada. Dito a grosso modo, os líderes partidários reunem-se com seus colegas de bancada e debatem sobre as possíveis propostas em voga. Chegam, por consenso ou por votação, a uma posição em que todos os membros do partido devem seguir o voto indicado pela bancada concordando com ela ou não.

Exemplificando: Na votação para aumento dos deputados estaduais do RS, não falaram em aumentar os 28,5% como os deputados federais, o que seria ridículo devido a situação financeira do Estado. Ainda assim estavam na dúvida se aumentavam 19,21% ou 21%. Não havia nem discussão pra que se mantivessem os salários anteriores. Não havendo discussão as bancadas decidiram por uma opção (19,21%) ou outra (21%). Depois foram só os deputados dizerem que acompanharam o voto de bancada, fazendo de conta que existiu algum debate real. Simples não?

O impacto:

Essa infeliz atitude gerou uma despesa extra de mais de R$ 600 milhões anuais ao país. Isso por conta do efeito em cascata gerado para as assembléias legislativas dos Estados e câmaras municipais, que tem o teto dos salários de deputados e vereadores restringidos pelos do congresso. Como não poderia deixar de ser, as assembléias legislativas sentiram-se livres para aumentar seus próprios salários. E foi o que fizeram, sempre mirando o valor próximo do teto, 75% do salário dos congressistas de Brasília.

Mas quem se importa? O dinheiro que os sustenta não é de ninguém, não é mesmo? Mantenha isso sempre em mente quando seu "representante" falar que faltam verbas para aquele projeto de construção de novos hospitais, contratação de professores e o que mais lhe vier a cabeça. É a mais pura mentira dele...

.'.

Nota: Para aqueles deputados e senadores que quiserem contestar alguma informação aqui publicada, sintam-se a vontade. Estamos abertos ao diálogo para discutir suas nobres razões para ter tomado tal atitude. Todos os 513 deputados e 81 senadores foram contatados para se pronunciarem a respeito do exposto, mas até o momento nenhum deles quis se manifestar. Continuemos aguardando.

domingo, 23 de dezembro de 2007

Senado registra mais de 1,5 mil faltas em 2007, diz pesquisa

Congresso, Brasília
Sessão de cassação de Calheiros teve recorde de presença

Se fosse no colégio já teriam sido reprovados por faltas há muito tempo. Como é na República dos Bananas tudo anda justo e perfeito segundo sua lógica...

O Senado registrou 1.545 faltas nas 119 sessões reservadas para votações entre 6 de fevereiro e 12 de dezembro deste ano, de acordo com levantamento do site Congresso em Foco, especializado no acompanhamento das atividades parlamentares.
Divulgado por Márcia Melina

Com isso, a média de ausências do conjunto dos senadores ficou em 16,05%, revelou a pesquisa, feita a partir de análise das listas de presença publicadas pelo Diário do Senado, que é o órgão oficial da Casa.

Apenas duas sessões deliberativas realizadas em 2007 conseguiram reunir todos os 81 senadores - as que livraram o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) da cassação, segundo a pesquisa do Congresso em Foco.

O levantamento apontou como o senador com maior número de faltas neste ano o ex-presidente Fernando Collor (PTB-AL), que compareceu a apenas 44 sessões deliberativas.

"Considerando o total de sessões realizadas durante o tempo em que ele estava no exercício do mandato (76), o índice de faltas de Collor foi de 42,11%", disse a pesquisa.

O senador mais assíduo neste ano foi Marco Maciel (DEM-PE), que compareceu a 113 das 119 sessões deliberativas realizadas até o último dia 12. Ele foi seguido de Flexa Ribeiro (PSDB-PA), Antônio Carlos Valadares (PSD-SE), Valter Pereira (PMDB-MS) e Leomar Quintanilha (PMDB-TO), de acordo com o levantamento.

Mais detalhes da pesquisa podem ser vistos no site Congresso em Foco: http://congressoemfoco.ig.com.br/

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

SVQR: O Senado e a Vergonha de Roma

por Ricardo Lichtler

Com os sucessivos escândalos vindos do Senado Federal, a casa mostra sua incapacidade de lidar com eles de uma forma eficaz e que esboce algum tipo de apego à ética política e à honra. O corporativismo retórico acaba por gerar mais escândalos, paralisa os trabalhos que deveriam ser executados e expõe ao ridículo (ou ao deplorável) um dos componentes do legislativo federal.
Mais do que isso, põe em xeque a própria razão de ser do Senado. Vários meios de comunicação nacionais, mormente revistas, colocam em pauta a possibilidade de extinção do Senado.

Obviamente a reação dos senadores foi exaltada e contrária a qualquer menção nesse sentido. Não poderia ser diferente, pois a norma de comportamento de seres humanos indica que não gostam de alterar seu status quo se este lhes for proveitoso. Ora, é sabido que muito executivo de multinacional não ganha um salário tão polpudo quanto o dos senadores. E certamente quase nenhum deve ter um horário de trabalho tão flexível e exíguo. E a estabilidade por 8 anos...

Mas, afinal, qual a função do Senado? A menos de funções específicas constitucionais, o Senado faz exatamente o mesmo que a Câmara: legisla (faz leis) e fiscaliza o executivo. E em relação às funções específicas constitucionais, elas couberam ao Senado porque já existia o Senado quando a Constituição foi feita. Um senador não tem DNA especial ou formação acadêmica superior a um deputado para que tais funções devam caber somente aos senadores. Tanto é verdade, que a cada eleição, muitos deputados almejam virar senadores!

Claro que, em vista disso, a retórica retumbante e desesperada dos senadores joga frases de efeito aos ouvidos moucos da população, para que a impressionem e tentem impedir o acolhimento da idéia. O discurso agarra-se em "valores democráticos" e "cláusulas pétreas" da Constituição, como seriam o pacto federativo e o equilíbrio regional. Pois o Senado é justamente um fator de desiquilíbrio na representatividade regional! A região Sul, por exemplo, tem 13% da população do país e 11% dos senadores. A região Nordeste tem 25% da população, mas 33% de senadores. Mas não pára por aí: a região Norte, que tem somente 7% da população, tem milagrosos 26% do Senado Federal! Isso não é acalentar a desigualdade regional?

Pois bem. Em resposta a isso, argumentarão que os senadores representam os entes federados e, portanto, essa representatividade correspondente à população cabe à Câmara. Balela! Primeiro, porque as fórmulas empregadas para a distribuição de deputados também causam distorção, ainda que em menor grau. Segundo, porque o princípio de eleição de um senador é exatamente o mesmo que elege um deputado: votação direta do povo. Claro, no caso da eleição de um senador, contam somente os votos individuais recebidos e não há coeficiente eleitoral.

Mas é o mesmo povo que vota nos deputados que elege os senadores. Não há vinculação nenhuma, por exemplo, entre o senador eleito e o governador do estado de origem, ou entre o senador e a respectiva assembléia legislativa; no fim, é apenas mais um político eleito para estar em Brasília. A representação propalada do ente federado fica no plano da divisão dos gabinetes, mas perde-se completamente na origem.

A questão de existir ou não Senado é bem mais importante e menos intocável do que parece. Não é mais grave ou visceral, nem menos fundamental do que escolher entre presidencialismo e parlamentarismo, escolha que já fizemos. E há de se lembrar que há muitos países que funcionam muito bem com um simples congresso unicameral. No fim, o Brasil possui duas câmaras legislativas que conflitam e barganham diferente e inconsistentemente com o executivo, isso quando não os fazem entre si. É custo em dinheiro, é custo em tempo. E neste país, há falta dos dois!